Por IORRAN SEBASTIÃO BASTOS
Muita coisa no
comportamento de homens e mulheres mudou definitivamente com o movimento
feminista, que ganhou força avassaladora a partir dos anos sessenta do século
passado. Vou me ater à música para ilustrar os momentos mais marcantes da
mudança da condição da mulher objeto para a mulher agente.
AI , QUE SAUDADES DA AMÉLIA, o famoso hino
machista de Ataulfo Alves foi a primeira a cair em desgraça no gosto das novas
“sem sutiã” da praça. Virou um inimigo poderoso, combatido em todas as frentes
de audição. Já vi muita mulher quebrar vitrolas antigas por causa dela. Ela era
o alvo preferido e considerada tão machista que outras acabaram ficando no
esquecimento da perseguição. Tivemos por exemplo, o Agepê, que cantava JEITO DE
FELICIDADE. Coisa impensável hoje em dia:
“Acorda amor, já é hora de fazer o café
Sabe como é que é
Eu tenho que pegar o trem das seis
Senão não chego as sete lá
Eu já falei pra você
Deixar de assistir a novela das dez
Esquece de lembrar do compromisso
Quem não tem nada com isso
Fica sem café”,
Sabe como é que é
Eu tenho que pegar o trem das seis
Senão não chego as sete lá
Eu já falei pra você
Deixar de assistir a novela das dez
Esquece de lembrar do compromisso
Quem não tem nada com isso
Fica sem café”,
Até o Chico
Buarque, considerado o alter ego feminino deu a sua derrapada em FEIJOADA COMPLETA. Não
estou defendendo-o, mas acho que ele queria era falar de uma festa regada a uma
boa feijoada. Ocorre que acabou colocando a mulher sozinha para fazer tudo e ele só entrou com
os amigos e a bebedeira e ainda por cima, sem aviso prévio, mandando botar mais
água no feijão. Fazia-me lembrar das raivas que a minha mãe tinha quando meu
pai chegava meio tonto aos domingos levando um amigo para o almoço depois que
todo mundo em casa já havia comido e lavado as louças.
“Mulher, você vai gostar
Tô levando uns
amigos pra conversar
Eles vão com
uma fome que nem me contem
Ele vão com uma
sede de anteontem
Bota a cerveja
estupidamente gelada prum batalhão
E vamos botar
água no feijão...”
E o triunfo
feminino veio com os próprios homens, alguns interpretando o momento de poder
feminino com classe, feito Ivan Lins em BILHETE, se bem que serve para ambos os
sexos, mas as mulheres se apropriaram dela primeiro. Fafá de Belém foi rápida
no gatilho e gravou:
“Quebrei o teu prato, tranquei o
meu quarto
Bebi teu licor
Arrumei a sala, já fiz tua mala
Pus no corredor
Eu limpei minha vida, te tirei do meu corpo
Te tirei das entranhas
Fiz um tipo de aborto
E por fim nosso caso acabou, está morto
Jogue a cópia da chave por debaixo da porta
Que é pra não ter motivo
De pensar numa volta
Fique junto dos teus
Boa sorte, adeus”
Bebi teu licor
Arrumei a sala, já fiz tua mala
Pus no corredor
Eu limpei minha vida, te tirei do meu corpo
Te tirei das entranhas
Fiz um tipo de aborto
E por fim nosso caso acabou, está morto
Jogue a cópia da chave por debaixo da porta
Que é pra não ter motivo
De pensar numa volta
Fique junto dos teus
Boa sorte, adeus”
E também uns
com menos recursos argumentativos ou se sentindo derrotados, fizeram músicas
que são chamadas “de corno”. Será que foi vingança delas? Olhem o hino deles
com o Reginaldo Rossi:
“Garçom! Aqui!Nessa mesa de bar
Você já cansou de escutar
Centenas de casos de amor...
Garçom!
No bar todo mundo é igual
Meu caso é mais um, é banal
Mas preste atenção por favor...
Saiba que o meu grande amor
Hoje vai se casar
Mandou uma carta pra me avisar
Deixou em pedaços meu coração...”
Obs: Publicado originalmente com o título "Feminismo e MPB"