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É sabido no meio dos bebedores
compulsivos que as mais inesquecíveis amizades são feitas num boteco. Inesquecíveis,
pois costumam ser as melhores e também as piores. Principalmente porque elas
não costumam extrapolar os limites geográficos do estabelecimento, a não ser
que seja para um encontro em outro bar com cerveja mais gelada, tira-gosto mais
gostoso, música mais agradável, etc, etc, etc. Quanto ao “melhor e pior”, fique
bem claro que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.
Foi num desses ambientes, outrora
muito mais freqüentados pelo Arcanjo para seus inolvidáveis porres que conheceu
e ficou amigo do Iorran Sebastião Bastos, um músico da noite. Não, ele não é
cego, nem compôs nenhuma música clássica. Qualquer semelhança do nome com o
genial Joahann Sebastian Bach deve ser
atribuída ao apego desmesurado de sua mãe com os clássicos da música. O pai
queria Lamartine, em homenagem a um
grande compositor brasileiro, mas se deu por satisfeito. Ambos eram
devotos da boa música. Começou sua trajetória musical mais ou menos como os
Engenheiros do Hawaii. Tinha uma banda com a turma da escola de engenharia, só
que ao final do curso, todos os demais foram atacar de engenheiros como mandava
o diploma e ele destoou da régua e do compasso. A harmonia dos números era
muito fria para seu sensível apego a um acorde dissonante. Iorran toca muito
bem vários instrumentos e, além disso, passeia por muitos estilos, exceto os da
moda atual. Segundo sua teoria musical, a música sertaneja eletrônica e as
baladas de axé, funk e demais batidões são uníssonas. Tocou uma vez tem-se a
sensação de ter tocado todas. Mudam-se vez em quando as dancinhas que inventam
para acompanhar. A amizade com o Arcanjo nasceu a partir de uns aplausos quase
solitários deste para ele, depois de tirar no sax a canção As Rosas Não Falam,
desprezada pela platéia alvoroçada dos fins de noite. Quase ninguém no bar
prestava atenção. Os poucos que o faziam era com pedidos para ele mudar para
música sertaneja que chamavam de universitária, seja lá o que possam achar o
que isso signifique. A própria atmosfera cultural da universidade já não é mais
a mesma de uns anos atrás, então o que diremos de música universitária?
Um papo filosófico musical
recheado de nostalgia e uma cantoria alegre varou a noite e só foi terminar a
pedido do dono do bar para eles gentilmente
pagarem a conta e irem embora (“pelamordedeus”, foi a expressão exata).
Precisava fechar as portas.
Imagino o belo encontro,tão bom,tão animado que só ao som do "pelamordedeus" eles saíram, mas certamente hão de se encontrar novamente, nem que Arcanjo seja o única a aplaudir...
ResponderExcluirabração,lindo dia,chica
Noites assim são inesquecíveis! Quando um músico e um violão se encontram em um bar, a noite jamais deixa de ser criança...
ResponderExcluirôu coitado..rs mas é desse jeitinho mesmo que as coisas acontecem
ResponderExcluirbjs Cacá
Delícia! Cada vez melhores seus personagens!Claro que vão desaguar num livro! Vou tomar uma de Salinas em homenagem.
ResponderExcluirAbração!
Berzé
Kkkkk. Cacá, meu bom amigo. Acabei voltando no tempo, lá naquela época de fins de noite de sextas-feiras regadas a música e cerveja depois de uma semana estafante de trabalho e estudos.
ResponderExcluirE olha, faz pouco tempo, revi meus critérios musicas. Sempre me tomei por eclético, e sempre citava que "se me provam que é bom, eu gosto". Até que me bombardearam com alguns rítmos "uníssonos" que você citou acima, e reparei que de eclético eu não tenho é nada. hehe.
E tantas foram as longas conversas de bar. Se as aproveitávamos? No momento, sim. Mas meia hora depois, sequer lembrávamos daquilo que havíamos conversado.
Desnecessário traçar comentários sobre o Iorran e o Arcanjo. São personagens que são presentes em minhas leituras faz algum tempo, e já detém enorme admiração de minha parte. Muito bom.
Abraços, meu bom amigo.
Marcio
Gostei da critica meu amigo.O que fizeram da musica universitaria,ninguem mais viu e nem sabe.Mas estes seus personagem são umas figuraças.Belo trabalho com lembranças de um tempo feliz.
ResponderExcluirMeu abraço Zé.
Oi, Cacá!
ResponderExcluirBoa essa estória, já ouvi casos assim de alguém dizer 'pelamordedeus' para os caras irem embora do bar. Meu sogro tinha algumas estórias dessas.
E, fala sério, música sertaneja universitária, que qué isso?
Pra mim um bar só combina com blues ou um samba de raiz.
bjs cariocas
Uai, Cacá!
ResponderExcluirFiquei pensando nessas 'amizades de bar' ou no bar, e parece que a gente conversa mais quando está descontraído, não? Um assunto leva a outro, incrível isso!
Excelente texto, fluente, muito bem escrito!
Grande abraço!
Oi Cacá!
ResponderExcluirrsssss
Muito bom!
Estes encontros movidos a bons destilados dão muita converas mesmo, meu filho que o diga, nunca vi ter tanta resenha.rsss
Abração e boa sorte na nova casa.
Boa noite, querido amigo Cacá.
ResponderExcluirAcredito que essas amizades sejam agradáveis também.
Sobre os pais do cantor da noite, acho que quando a paixão musical é muita, o universo conspira, e nos dá um filho talentoso.
Até hoje não entendo o que é "música sertaneja universitária", mas deve vir daqueles que têm vergonha de assumir os próprios gostos.
Esse blog é lindo!!
Amei...
Beijos.
Muito bom, Claudio!
ResponderExcluirrsrsrsrsrsrs.
ResponderExcluirExcelente, Cacá!
Achei muito interessante a tal da "música sertaneja universitária".
Não consegui enquadrá-la entre o ritmos que conheço (rsrsrs).
Será que estou "fora da real"?
Sua crônica me fez lembrar de minhas saídas com a turma após as aulas de sexta-feira na faculdade. Eu nunca bebi, mas fechávamos os botecos. Os garçons passeavam para lá e para cá com a notinha na mão, quase que implorando para que algum de nós a pedisse. Coitados!
Grande abraço.
delicia o novo blog!
ResponderExcluirVim deixar um abraço imenso e matar essa saudade danada, além de prestigiar esse espaço mais cativante que há.
ResponderExcluirBeijo na alma,
Sam.