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ARCANJO ISABELITO SALUSTIANO
As soluções prontas são um balde
de água fria no hábito de pensar. Antigamente as coisas iam acontecendo e os
recursos eram escassos. Enquanto faltavam técnicas apuradas por um lado,
abundavam pensamentos por outro. O homem ia vendo as coisas, os fenômenos
naturais e ia teorizando, esperando socorro. Foi assim que nasceu a filosofia.
E como tinha pouca gente para pensar, os mesmos filósofos viram que tinham que
resolver os problemas eles mesmos. Tanto que viraram cientistas também.
Enquanto deixavam o pensamento vagar em observações no cosmos sob o sol, luares
e estrelas, iam fazendo umas continhas, misturando umas substâncias, testando
umas superfícies lisas ou ásperas e tomando anotações. Nasciam os astrônomos,
fiscos, matemáticos e por ai afora.
Quando pensaram na dor, que
remédio tinha a não ser teorizar? Teve gente que afirmava que com a dor se
aprendia a viver melhor, uma forma de superação de adversidades. Ficar
impassível diante da dor provocava uma elevação do caráter. Veio o tal do
estoicismo. Uma aula com a dor. Era preciso aprender a cura, no entanto, pois
muita gente não entendia o princípio e continuava sentindo dores. Além do mais
quem poderia transferir para a alma, onde o suporte é maior, uma dor que tá
doendo no braço, na perna, na barriga? Aí teve uns que começaram a estudar o corpo
humano e a medicina foi aparecendo depois, devagar.
O que atrapalhou um pouco os
planos, ou melhor, os pensamentos bem intencionados acerca da dor foram umas
pessoas que passaram a sentir um certo conforto e prazer com ela. Eram os tais
masoquistas atrasando o desenvolvimento da filosofia e da ciência. Pode uma
coisa dessas? Como tudo tem uma reação (já estava começando a germinar o
conhecimento da lei da ação e reação), apareceram aqueles que gostavam de ver o
sofrimento alheio e também sentiam prazer nisso. Eram os sádicos, tradicionais
rivais dos masoquistas durante muito tempo. E bem mais à frente na história
vamos ver que se aliaram. Muitos acabaram em moderníssimos motéis com
chicotinhos, correntes, algemas e outros apetrechos, já que a sociedade começou
a punir abusos em praça pública. Coisa de foro íntimo, eu nem tenho nada com
isso.
Não falei dos hipocondríacos, uma
categoria intermediária, mas deixa pra lá. O caso deles quase nunca envolve
dor. Acho que se trata mais de carências da alma querendo algum reconhecimento
e que são substituídas por aparentes doenças e muitos remédios. Se lhe derem
umas pílulas de trigo ou maizena disfarçadas e disserem que resolvem os
problemas muitos se curam com uma facilidade incrível.
Motivo dessa prosa toda? Eu estava
andando de bicicleta e me deu uma dor danada no cóccix. Pode falar nos ossos da
bunda? Não me levem a mal, não há intenções sádicas nem masoquistas. É que eu
fiquei uns tempos parado e até me acostumar novamente não tenho outro remédio
senão pensar e ir me exercitando. E cóccix é uma palavra muito difícil de ser
pronunciada. Só de pensar dói.
Bom dia José Cláudio, gostei da sua crônica, parabéns!"E cóccix é uma palavra muito difícil de ser pronunciada. Só de pensar dói." Concordo.Abraços, Van.
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